No passado sábado, dia 8 de Julho, o dia era de elevado calor. Não só a temperatura convidava à praia mas, também, Portugal jogava o seu prestígio e orgulho ferido num maquiavélico e frustrante jogo de consolação na Alemanha. Os Carapaus Azeite & Alho foram convidados a mais uma actuação num famoso espaço em Setúbal, o STUDIO 4. Quem conhece os Carapaus Azeite & Alho, sabe que, para além do espírito de paródia e diversão que inunda o palco aquando de uma actuação, há uma mensagem implícita em toda aquela encenação. Sem quererem enveredar pelos caminhos facilitistas do humor batido, abordando temáticas de cariz sexual, ordinário que, sem dúvida, ainda faz grande percentagem do comum dos mortais rir, os Carapaus não têm no seu intuito difamar, gozar ou fazer escárnio de qualquer tipo de situações. Entre Escárnio e Sátira existe uma profunda diferença, total, ao nível epistemológico. A proposta é uma brincadeira, pegando em temas e assuntos que estão enraizados (quer queiram quer não) na chamada "cultura popular portuguesa". Quem afirma que Carapaus Azeite & Alho é uma tentativa de imitação de outros projectos musicais de paródia, proponho que venha assistir a um espectáculo: não há drogas, não há palavrões, não há degradação humana e, acima de tudo, existe um profundo respeito pelo público, de todas as idades, credos e culturas...de forma (que se tenta ser) original.... Se alguém consegue, pelo menos, sorrir ao assistir a um espectáculo é porque a mensagem que a banda transmite faz algum sentido. Para os elementos (alter-egos) que compõem o grupo, o principal é objectivo é, sem dúvida, a diversão fazendo aquilo que mais gostam de fazer...em linguagem de senso comum: juntar o útil ao agradável. E foi neste intuito que nos dirigimos, mais uma vez, a Setúbal, a uma casa que muito bem nos acolheu sempre. Aproveitando o facto (apesar do desconhecimento do resultado do jogo dessa noite) das movimentações de apoio à selecção nacional, aproveitámos para fazer uma comemoração no nosso espectáculo. Portugal perdeu 3-1. Confesso que não me entristeceu pois, como qualquer português,... a final é que era!!!!! A noite caiu. O bar foi enchendo até estar a rebentar pelas costuras. Público da zona, arredores e, também, de mais longe ainda. Garanto que, 85% do público que nessa noite esteve no Studio 4, sabia o que se iria passar... O espectáculo começou ao rubro. O público, esse, sentia-se com a banda, apesar de alguns problemas de som que se verificaram ao início. Menções a Portugal, com aqueles já míticos gritos de guerra transpondo alguma raiva trepidante. Mas, nos espaços entre cada música, alguns presentes não compreenderam a mensagem que a banda queria passar: apupos, faltas de respeito chegando a roçar a pura ordinarice sem o mínimo de consideração pelas pessoas que estavam em cima do palco e as que estavam a assistir ao espectáculo. Assobios, "pan...os", "vai-te embora", etc. Na minha terra (e na vossa, penso eu de que...) diz-se que "quem está mal muda-se". Depois de uma primeira observação por parte da banda, o mesmo grupo de indivíduos manteve a toada de falta de delicadeza e de respeito. Todos vocês sabem o quão ingrato é (apesar de ser divertido) estarmos a dar "o corpo ao manifesto" daquela forma. A concentração, a necessidade de encabeçarmos um segundo "eu" não é fácil mas é, acima de tudo, um tónico de rejuvenescimento. Mas não se mudaram. Continuaram na mesma toada, sem respeito pelas pessoas que ali foram. O espectáculo estava estragado pois a casa também não se apercebeu do que estava a ocorrer: não tiveram qualquer tipo de preocupação pelos clientes, nem pela banda. Todos vocês, penso, tiveram conhecimento do que se passou hà uns anos num festival, em que uma banda estrangeira foi brindada com calhaus, apupos e todo o tipo de deselegâncias lusitanas que só nos envergonham. Toda a gente sabe o quão é difícil a um jogador de futebol manter um alto nível de rentabilidade quando apupado pelos adeptos. Todos vocês recordam o Cristiano Ronaldo no Estádio da Luz, em que perdeu a cabeça, tomando um acto desaprovado pela hipocrisia nacional. Todos viram o Samuel Eto'o (Barcelona) a abandonar o relvado após manifestações racistas a si dirigidas. Todos vocês, de certeza, não se iriam sentir bem em qualquer uma destas situações e todos vocês, de certeza, sentiram-se injustiçados por chamarem arruaceiros aos nossos "heróis" na Alemanha. Mas todos vocês pensam que estamos ali por dinheiro e, por isso, temos de cumprir o nosso horário e, como gladiadores na arena, temos que nos bater até à morte, para deleito das bancadas sádicas. E muitos de vocês tomam-nos como algo que está para além da natureza do ser humano: palhaços em escravidão, sem condições perante a obrigatoriedade laboral e patronal. E foi esta a atitude do senhor gerente e proprietário da casa. Ao abandonarmos o palco, alegando a falta de condições que cerca de metade do público se apercebeu, dirigimo-nos para o "back-stage". A única preocupação do mesmo senhor gerente foi que a casa estava cheia e estava a perder dinheiro e que se não fôssemos tocar, não nos pagaria. Isto num tom puramente autoritarista e senhorialista, fazendo reviver os tempos áureos da Sociedade Capitalista que tanto aquele distrito de Setúbal se bateu contra... Quando um rapaz (porventura amigo de alguém no bar) pede-nos para voltar ao palco, prometendo afastar aqueles que estavam a "estragar a festa", ainda nos mostrámos relutantes mas decididos a regressar ao palco. Mas, infelizmente, o gerente da casa mostrou novamente um lado autocrático e ditatorial, tecendo palavras desagradáveis (na presença de raparigas, inclusivé) expulsando-nos, quais cães, quais ratos de esgoto, do seu espaço comercial. Em nome dos Carapaus Azeite & Alho, quero pedir a todos aqueles que nos visitaram nessa noite as nossas desculpas pelo lamentável sucedido. Mesmo que não aceitem, e considerem que a nossa atitude poderia ser outra, pelo menos peço que compreendam as palavras atrás descritas. Vemo-nos em breve, um abraço João Diona/ Toné Albertino